De imediato consideramos a borboleta como um símbolo de ligeireza e de inconstância. A noção de borboleta que se queima no candeeiro não é nossa particular: Como as borboletas se precipitam para a sua morte na flama brilhante, lê-se no Bhagavad-Gita (11,29), assim os homens correm para a sua perdição…
Graça e ligeireza, a borboleta é, no Japão, um emblema da mulher; as duas borboletas figuram a felicidade conjugal. Ligeireza sutil: as borboletas são espíritos viajantes; sua presença anuncia uma visita ou a morte de uma pessoa próxima.
Um outro aspecto do simbolismo da borboleta se fundamenta nas suas metamorfoses: a crisálida é o ovo que contém a potencialidade do ser; a borboleta que sai dele é um símbolo de ressurreição. É ainda, se preferir, a saída do túmulo. Um simbolismo dessa ordem é utilizado no mito de Psique, que é representada com asas de borboletas. E também no de Yuan-k’o, o Imortal jardineiro, a quem a bela esposa ensina o segredo dos bichos-da-seda, e que talvez seja ela própria um bicho-da-seda.
Pode parecer paradoxal que a borboleta sirva, no mundo sino-vietnamita, para exprimir um voto de longevidade: essa assimilação resulta de uma homofonia, dois caracteres com a mesma pronúncia (t’ie) significando, respectivamente, borboleta e idade avançada, setuagenário. Por outro lado, a borboleta é às vezes associada ao crisântemo para simbolizar o outono (DURV, GUEM, KALL, OGRJ).
No Tochmarc Etaine ou Corte de Etain, conto irlandês do ciclo mitológico, a deusa, esposa do deus Mider e símbolo da soberania, é transformada em uma poça de água pela primeira esposa do deus, que é ciumenta. Mas dessa poça nasce, pouco tempo depois, uma lagarta, que se transforma em uma magnífica borboleta, a qual o texto irlandês algumas vezes chama de mosca; mas o simbolismo é eminentemente favorável. Os deuses Mider e depois Engus a recolhem e protegem: E essa lagarta se torna em seguida uma mosca púrpura. Ela era do tamanho da cabeça de um homem, e era a mais bela que já houve no mundo. O som de sua voz e o bater de suas asas eram mais doces que as gaitas de fole, que as harpas e os cornos. Seus olhos brilhavam como as pedras preciosas na obscuridade. Seu odor e seu perfume faziam passar a fome e a sede a quem quer que lançava estivesse cerca dela. As gotículas que ela lançava de suas asas curavam todo mal, toda doença e toda peste na casa daquele de quem ela se aproximava. O simbolismo é o da borboleta, o da alma liberta de seu invólucro carnal, como na simbologia cristã[CHAB, 847-851), e transformada em benfeitora e bem-aventurada.
Entre os astecas, a borboleta é um símbolo da alma, ou do sopro vital, que escapa da boca do agonizante. Uma borboleta brincando entre flores representa a alma de um guerreiro caído nos campos de batalha (KRIR, 43). Os guerreiros mortos acompanham o Sol na primeira metade de seu curso visível, até o meio-dia; em seguida, eles descem de volta à terra sob a forma de colibris ou de borboletas (KRIR, 61).
Todas essas interpretações decorrem provavelmente da associação analógica da borboleta e da chama, do fato de suas cores e do bater de suas asas. Assim, o deus do fogo entre os astecas leva como emblema um peitoral chamado borboleta de obsidiana. A obsidiana, como o sílex, é uma pedra de fogo; sabe-se que ela forma igualmente a lâmina das facas de sacrifício. O Sol, na casa das Águias ou Templo dos Guerreiros, era figurado por uma imagem de borboleta.
Símbolo do fogo solar e diurno, e por essa razão da alma dos guerreiros, a borboleta é também para os mexicanos um símbolo do sol negro, atravessando os mundos subterrâneos durante o seu curso no oculto. É assim símbolo do fogo ctoniano oculto, ligado à noção de sacrifício, de morte e de ressurreição. É então a borboleta de obsidiana, atributo das divindades ctonianas, associadas à morte. Na glíptica asteca, ela tornou-se um substituto da mão, como um signo do número cinco, número do Centro do Mundo (SOUC).
Um apólogo dos balubas e dos luluas do Kasai (Zaire central) ilustra ao mesmo tempo a analogia alma-borboleta e a passagem do símbolo à imagem. O homem, dizem eles, segue, da vida à morte, o ciclo da borboleta: ele é, na sua infância, uma pequena lagarta, uma grande lagarta na sua maturidade; ele se transforma em crisálida na sua velhice; seu túmulo é o casulo de onde sai a sua alma que voa sob a forma de uma borboleta; a postura de ovos dessa borboleta é a expressão de sua reencarnação (FOVA). Do mesmo modo, a psicanálise moderna vê na borboleta em símbolo de renascimento.
Uma crença popular da Antiguidade grego-romana dava igualmente à alma que deixa o corpo dos mortos a forma de uma borboleta. Nos afrescos de Pompéia, Psique é representada como uma menininha alada, semelhante a uma borboleta (GRID). Essa crença é encontrada entre certas populações turcas da Ásia Central que sofreram uma influência iraniana e para as quais os defuntos podem aparecer na forma de uma borboleta (HARA, 254).
Fonte: (Chevalier, Jean, 1906 - Dicionário de símbolos:(mitos, sonhos, costumes, gestos, formas, figuras, cores, números)/Jean Chevalier, Alain Gheerbrant, com a colaboração de: André Barbault...[et al.]; coordenação Carlos Sussekind; tradução Vera da Costa e Silva...[et al.]. - 19º ed. - Rio de Janeiro:José Olympio, 2005, p. 138-139).
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